quinta-feira, 7 de março de 2013

Mó comédia esse livro - Parte 1


Quem me conhece um pouco sabe que adoro ler (viciado). Como consigo ler em ônibus, tenho uma frequência de leitura muito grande e acabo lendo muitos livros por ano. Alguns começo a ler e não sossego enquanto não termino. Outros eu começo a ler, não gosto, mas forço a leitura até o final [quem sabe não melhora, né?]. Mas alguns eu tenho uma vontade enorme de ler, porém nunca consigo. Por exemplo, Fausto, Crítica da Razão Pura e Divina Comédia. Por isso estipulei uma meta pra 2013: ler A Divina Comédia inteira [entendendo, claro rsrs]. Pra me ajudar, consegui os reforços de Samir (@samir_elian) e Fabiana (@fabiana_carelli). Não só estão me apoiando na leitura como, a Fabi, inventou uma tal história de escrevermos nossas impressões sobre 10 cantos por mês [o livro tem 100 cantos]. Não esperava por isso, achei que era só pra ler rsrsrs mas topei esse acréscimo no desafio. Só que não falarei muito das minhas impressões, mas farei um breve resumo do babado. Então, vamos lá:

Começa com Dante perdido numa floresta, sozinho, de noite nem vou dizer que ele saiu de uma festa, ou seja,. Já que ele não sabia onde estava e nem pra onde ir, resolveu tirar um cochilo ali mesmo. Acordou com o sol a pino no dia seguinte de ressaca e continuou caminhando até que se viu em perigos, cercado por uma pantera, um leão e uma loba. E agora, quem poderá ajudá-lo? Ahá, ninguém menos que o poeta Virgílio aparece pra ele, vindo lá do Limbo a pedido de Beatriz (mas ele só fala isso pra Dante depois). Virgílio oferece uma fuga dos perigos da floresta, mas Dante terá que passar pelo Inferno, Purgatório e Paraíso (pra quem é de Sampa, é a mesma coisa que você pegar o metrô na Sé às 17h pra ir pro Paraíso só no nome). Dante vai em direção à morte pra escapar da morte.

Chegam aos portões do Inferno e, às margens do Aqueronte, tem uma galera gritando. Nem os santos e nem os maus os queriam. Dante diz deles:

Soube logo, o que ao certo me revele,
Que era a seita das almas aviltadas,
Que os maus odeiam e que Deus repele,
Nunca tiveram vida as desgraçadas, 
Sempre, nuas estando, as torturavam
De vespas e tavões as ferroadas.
Os rostos seus as lágrimas regavam,
Misturadas de sangue: aos  pés caindo,
A imundos vermes o repasto davam.
(Canto III, 21-23)

Dante e Virgílio pegam o barquinho do Caronte e chegam ao 1º círculo do Google+ do Inferno. Ali fica o Limbo, onde o poeta romano "morava":

"Conhecer" - meu bom Mestre diz - "não queres
Quais são os que assim vês ora sofrendo?"
Antes de avante andar convém saberes
Que não pecaram: boas obras tendo
Acham-se aqui; faltou-lhes o batismo,
Portal da fé, em que és ditoso crendo.
(canto IV, 11-12)

Após uma festinha conversinha, seguem viagem, rumo ao 2º círculo, a partir de onde o bicho pega pra valer.  Logo na entrada está Minos, julgando e dando a sentença de cada um. Lá, estavam aqueles que pecaram por luxúria, sendo arrebatados por um vento muito forte, que os jogavam de um lado ao outro. Chegam ao 3º círculo, onde estão os gulosos, tendo que suportar uma chuva pesada e putrefata. Lá, Cérbero tortura as almas, avançando sobre elas com raiva e sanguenuzóio. Em cada lugar que passam, Dante gosta de dar uma paradinha e conversar com a alma que ali habita, pra melhor entender o sofrimento e dor dos que ao Inferno foram designados.

Chegam ao 4º círculo e tá lá Pluto (não o da Disney) no portão. A princípio não os deixam passar, mas quem se oporia à ordens divinas, né não?

E, se volvendo ao vulto, de ira adusto,
Lhe grita - "Cala-te, ó lobo abominoso!
Em ti consome esse furor injusto!
Se ao abismo descemos tenebroso,
A lei se cumpre do Alto, onde, em castigo,
Suplantara Miguel bando orgulhoso."
(canto VII, 3-4)

Carregando enormes pesos de um lado pro outro estavam os avarentos e os pródigos. Acabavam se trombando e rolava uns xingamentos mútuos. Em frente viram um lago negro, fervente, cheio de almas que, enfurecidas, se debatiam, se dilaceravam...

-"As almas, filho meu, que ora estás vendo
São dos que"- disse o Mestre - "venceu ira,
Como certo também fica sabendo
Que sob as águas multidão suspira
E em borbulhões as águas intumesce
Por toda essa extensão, que a vista gira."
(Canto VII, 39-40)

Pegaram uma carona com o demônio Flégias pra atravessar o lago e chegar nas regiões mais escuras do Inferno. Pra ter ideia do perrengue, logo em seguida os demônios fecham todas as entradas pra não os deixarem passar e se encontram de frente com a Medusa e outros monstros ao redor. Chegou ao ponto de um anjo descer dos céus para ajudá-los:

Os olhos descobriu-me e disse: "Exalta
A vista agora até a espuma antiga,
Onde mais acre a cerração ressalta."
Quais rãs, que divisando a cobra imiga,
Todas da água no seio desaparecem,
E cada qual no lodo entra e se abriga,
Tais milhares de espíritos parecem,
Em derrota fugindo ante a figura
Que passa: n'água os pés não se umedecem.
Movendo a esquerda mão, a névoa escura,
Que lhe era em torno ao vulto, dissipava:
Só este afã lhe altera a face pura.
Ser ele conheci que o Céu mandava;
A Virgílio voltei-me, e mudo e quieto
Ao aceno, que fez, eu me acurvava.
(Canto IX, 25-29)

Pronto, passaram; agora se deparam com "sepulturas" ardendo em chamas e dentro delas os hereges. Dante passa todo o canto X conversando com uma das almas no sepulcro.

Enfim, desculpem o post longo. Tentei resumir o máximo possível. Até a próxima postagem, dos cantos XI ao XX.

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Atualização: minha versão é a da Martin Claret 

6 comentários:

  1. A Comédia (que teve o "Divina" bedelhamente acrescentado pela Igreja anos depois) ainda é meu livro favorito. Não só o imaginário é tenebroso (embora não creia em nenhuma religião, tenho calafrios quando penso "E se...?" para o Inferno de Dante), como a poesia é maravilhosa, com métrica impecável e metáforas perfeitas para as justas penitências, como os ventos dos luxuriosos, que em vida também se deixaram levar pelos prazeres como veleiros aos ventos. Além de tudo, é uma aula de História completa para Idade Média, um período que pouco nos contam na escola, recheada de divisões de poder, dos valores importantes e como eles eram deturpados na época.

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    1. Estou gostando, mas como não é um estilo que estou acostumado a ler, acabo me perdendo fácil; preciso ler com muita atenção e voltar várias vezes pra entender o contexto. É difícil rsrs.

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    2. Não sei qual edição vc está lendo, mas, com epopeias, a regra é: quanto mais notas, melhor. rs. Tenho uma versão de Paradise Lost em que metade do número de folhas é de notas. E acredite, elas são necessárias. hahaha

      Meu gênero preferido é o épico. Se algum dia quiser se aventurar mais nele, o mais fácil de todos (na minha opinião) é a Odisseia, depois os Lusíadas, a Ilíada, a 1a parte de Fausto (se bem que é um texto dramático, mas tá no pacote de poesia contando história), Paradise Regained, Paradise Lost, 2a parte de Fausto, Divina Comédia e Eneida. Então vc realmente pegou um lvl hard pra se aventurar.

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    3. A minha versão é a da Martin Claret: http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/101816/divina-comedia-colecao-a-obra-prima-de-cada-autor-serie-ouro

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  2. Ander, vou te contar, essa tal de Fabi é de matar, não deixa ninguém quieto, viu?... Fuja dela como Dante da cruz, ou melhor, da encruzilhada! ;)

    Que incrível essa história dos "reprimidos retornantes" do seu texto. Amei... São eles que dizem tudo o que está “nascosto”, como dizem os italianos, “escondido” por trás do olhar che guarda...

    Sabe, eu tenho que te dizer “obrigada”, viu? Por nos dar essa oportunidade de ler isso, de trocar isso também, de atravessar.
    Com certeza, em muita coisa, só indo mesmo de cara pra morte é que a gente consegue escapar dela. Mesmo.

    Obrigada por esse presente.

    Um beijo.

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  3. Oi Anderson, que bacana q vcs estejam lendo a divina comédia!Mas,vc está perdendo muito lendo essa versão da 'divina comédia' da martin claret. e ela nem tem as ilustrações maravilhosas do gustavo doré ou tem? Eu li numa versão tradicional q há em bibliotecas,geralmente com trad de paulo rónai..Mas adquiri uma versão bilíngue da editora 34 que é excelente. trad.Italo Eugenio Mauro: http://www.stelle.com.br/pt/referencias.html#elf

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