quinta-feira, 4 de abril de 2013

Mó comédia esse livro (#sqn) - Parte 2


Cá estou para relatar a parte 2 de 10 da Divina Comédia [parte 1]. O Samir e a Fabi já publicaram aqui e em breve aqui, respectivamente. A primeira impressão que tive ao ler os cantos 11 à 20 do Inferno foi “putz, esse livro já tá ficando chato” e daí me lembro porque parei de lê-lo das outras vezes. O que eu acho mais desgastante na leitura é justamente o Dante. PUTA CARA CHATO. Sabe quando vocês está caminhando com um amigo que conhece muita gente e ele pára pra conversar com todo mundo que encontra? Então, Dante é desses. Não sei como Virgílio ainda não o mandou pro inferno. Oh, wait...
No canto 11, chegam às bordas do 7º círculo e Virgílio explica que ali estão os violentos: contra os outros, contra si próprios e contra Deus e a natureza. No canto 12, chegam à primeira parte deste círculo, onde os violentos contra os outros ficam submersos em rios de sangue e ai daquele que levantar um pouquinho a cabeça, pois centauros com flechas estão de prontidão para fazerem voltar pra dentro do rio. Os centauros interceptam a dupla dinâmica para saber quem são, mas no fim acabam dando uma caroninha pra próxima parte.
Esta próxima parte é o segundo recinto do 7º círculo, onde estão os suicidas  Acho que essa foi a parte que mais me prendeu a atenção nestes 10 cantos. Deixa eu contar: eles chegaram numa floresta bem densa. Dante ouvia gemidos, mas não via ninguém. Achou que estavam escondidos. Deu uma olhadela pra Virgílio que disse:

Pois disse-me: “De um tronco se quebrares
Um só raminho, ficarás ciente
Desse erro em que se enleiam teus pensares”
(canto XIII, 10)

E adivinha o que o PUTA CARA CHATO fez? Foi lá e quebrou um raminho. #queburro

O braço estendo então e prontamente
Vergôntea quebro. O tronco, assim ferido
“Por que razão me arrancas?” – diz fremente.
De sangue negro o ramo já tingido,
“Por que me rompes?” – prosseguiu gemendo –
“Assomos de piedade nunca hás tido?”
(canto XIII, 11-12)

Virgílio dá um grande #facepalm e lamenta ter sugerido a ideia pra Dante. Então este último se dá conta que ser uma “árvore” é o castigo dos suicidas. Aonde a alma deles caem, germina e cresce como uma árvore nodosa, onde as Hárpias fazem abrigo e bicam os troncos. Crescerão até encontrarem seus corpos, que ficarão pendurados em seus galhos.
Nos cantos 14 e 15, mostra-se a situação dos que foram violentos contra a natureza e contra Deus. Num deserto, chove fogo. Os primeiros podem se mover pra tentar escapar das chamas, mas os segundos ficam deitados no chão sem poder se mexer.  Ao final do canto 16, chegam em um abismo e Virgílio pede a corda que cingia a cintura de Dante [parece que ele tinha algo de franciscano e andava com uma corda na cintura]. No canto 17, encontram o monstro Gerião (foto).



Este os leva de carona até o círculo oitavo, dividido em 10 partes, mais escuro e tenebroso, onde estão os fraudulentos. Canto 18: na primeira parte, estão os que enganaram mulheres em proveito próprio (flagelados por demônios) e na segunda parte, os aduladores (imersos em estrume). Canto 19: os simoniacos, pessoas que achavam que podiam comprar a graça e a fé, para fazerem milagres (qualquer semelhança com “pastores” de hoje em dia, não é mera coincidência). Entre os simoniacos, o papa Nicolau III (sim, papa Nicolau). Castigo deles: ficar de ponta-cabeça dentro de um buraco estreito na pedra, somente com as pernas de fora e fogo queimando a planta dos pés. Você tem cócegas? Imagina então...
Canto 20: estão os que enganaram os outros se dizendo adivinhos ou mágicos. Sabe aquela pessoa que lê seu futuro nas cartas, búzios ou mão? Então, estaria aqui. Seus corpos foram retorcidos e suas cabeças estão voltadas para as costas. Andam sem parar, mas não conseguem ver para onde vão.

Pelo futuro penetrar querendo,
Tem o dorso adiante em vez do peito,
E a recuar caminha, atrás só vendo.
(canto XX, 13)

Fui breve na descrição de cada canto mas porque, em cada um deles Dante, aquele PUTA CARA CHATO, pára pra falar com alguém que está padecendo naquele lugar. Ou ele é reconhecido e interceptado para conversar. Na verdade, cada canto é uma crítica à sociedade em que Dante vivia, pois em cada um destes lugares do Inferno, ele encontra conterrâneos (geralmente da nobreza italiana), que expõe seus pecados dizendo porque estão padecendo no Inferno.

2 comentários:

  1. Tá dando ate vontade de ler de novo, contado assim na língua dos manos. rs. Comentário irônico: no deserto de fogo do 7o círculo, algumas traduções e comentários acrescentam como violência contra Deus e a natureza também a violência contra as artes (tava chegando o Renascimento, a ideia de que ciência e arte eram uma coisa só não era mais tão absurda, né?). Eis que lá o Dante parou pra papear (bem, andou junto, porque o infeliz não podia parar, né?) com um antigo professor, e a história rolou como se ele sentisse muito por seu mestre condenado e tal, uma cena bonita e tal. Mas, né? Ali não computava também crime contra as artes? O poeta trata o cara que o iniciou nas letras como um violento (leia-se "agradeço ter me ensinado, mas o que você escreve é bosta!") e escreve como se o amasse?!! Safadinho, hein, Dante?

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    1. Ah, sim, tem os violentos contra as artes também. Só não os citei.

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