Cá estou para relatar a parte 2
de 10 da Divina Comédia [parte 1]. O Samir e a Fabi já publicaram aqui e em breve aqui, respectivamente. A primeira impressão que tive ao ler os cantos 11 à 20
do Inferno foi “putz, esse livro já tá ficando chato” e daí me lembro porque
parei de lê-lo das outras vezes. O que eu acho mais desgastante na leitura é
justamente o Dante. PUTA CARA CHATO. Sabe quando vocês está caminhando com um
amigo que conhece muita gente e ele pára pra conversar com todo mundo que encontra?
Então, Dante é desses. Não sei como Virgílio ainda não o mandou pro inferno.
Oh, wait...
No canto 11, chegam às bordas do
7º círculo e Virgílio explica que ali estão os violentos: contra os outros,
contra si próprios e contra Deus e a natureza. No canto 12, chegam à primeira
parte deste círculo, onde os violentos contra os outros ficam submersos em rios
de sangue e ai daquele que levantar um pouquinho a cabeça, pois centauros com
flechas estão de prontidão para fazerem voltar pra dentro do rio. Os centauros
interceptam a dupla dinâmica para saber quem são, mas no fim acabam dando uma
caroninha pra próxima parte.
Esta próxima parte é o segundo
recinto do 7º círculo, onde estão os suicidas Acho que essa foi a parte que
mais me prendeu a atenção nestes 10 cantos. Deixa eu contar: eles chegaram numa
floresta bem densa. Dante ouvia gemidos, mas não via ninguém. Achou que estavam
escondidos. Deu uma olhadela pra Virgílio que disse:
Pois disse-me: “De um tronco se
quebrares
Um só raminho, ficarás ciente
Desse erro em que se enleiam teus
pensares”
(canto XIII, 10)
E adivinha o que o PUTA CARA
CHATO fez? Foi lá e quebrou um raminho. #queburro
O braço estendo então e
prontamente
Vergôntea quebro. O tronco, assim
ferido
“Por que razão me arrancas?” –
diz fremente.
De sangue negro o ramo já
tingido,
“Por que me rompes?” – prosseguiu
gemendo –
“Assomos de piedade nunca hás
tido?”
(canto XIII, 11-12)
Virgílio dá um grande #facepalm e
lamenta ter sugerido a ideia pra Dante. Então este último se dá conta que ser
uma “árvore” é o castigo dos suicidas. Aonde a alma deles caem, germina e
cresce como uma árvore nodosa, onde as Hárpias fazem abrigo e bicam os troncos.
Crescerão até encontrarem seus corpos, que ficarão pendurados em seus galhos.
Nos cantos 14 e 15, mostra-se a
situação dos que foram violentos contra a natureza e contra Deus. Num deserto,
chove fogo. Os primeiros podem se mover pra tentar escapar das chamas, mas os
segundos ficam deitados no chão sem poder se mexer. Ao final do canto 16, chegam em um abismo e
Virgílio pede a corda que cingia a cintura de Dante [parece que ele tinha algo
de franciscano e andava com uma corda na cintura]. No canto 17, encontram o monstro
Gerião (foto).
Este os leva de carona até o círculo oitavo, dividido em 10
partes, mais escuro e tenebroso, onde estão os fraudulentos. Canto 18: na
primeira parte, estão os que enganaram mulheres em proveito próprio (flagelados
por demônios) e na segunda parte, os aduladores (imersos em estrume). Canto 19:
os simoniacos, pessoas que achavam que podiam comprar a graça e a fé, para
fazerem milagres (qualquer semelhança com “pastores” de hoje em dia, não é mera
coincidência). Entre os simoniacos, o papa Nicolau III (sim, papa Nicolau).
Castigo deles: ficar de ponta-cabeça dentro de um buraco estreito na pedra,
somente com as pernas de fora e fogo queimando a planta dos pés. Você tem
cócegas? Imagina então...
Canto 20: estão os que enganaram
os outros se dizendo adivinhos ou mágicos. Sabe aquela pessoa que lê seu futuro
nas cartas, búzios ou mão? Então, estaria aqui. Seus corpos foram retorcidos e
suas cabeças estão voltadas para as costas. Andam sem parar, mas não conseguem
ver para onde vão.
Pelo futuro penetrar querendo,
Tem o dorso adiante em vez do
peito,
E a recuar caminha, atrás só
vendo.
(canto XX, 13)
Fui breve na descrição de cada
canto mas porque, em cada um deles Dante, aquele PUTA CARA CHATO, pára pra
falar com alguém que está padecendo naquele lugar. Ou ele é reconhecido e interceptado
para conversar. Na verdade, cada canto é uma crítica à sociedade em que Dante
vivia, pois em cada um destes lugares do Inferno, ele encontra conterrâneos
(geralmente da nobreza italiana), que expõe seus pecados dizendo porque estão
padecendo no Inferno.